Especialista explica a importância da prevenção do suicídio

Mestre em Enfermagem Psiquiátrica ensina quais são os comportamentos de pessoas que tem intenção de cometer suicídio e como auxiliá-las

Pauta: Claudia Yukari Hirafuji
Reportagem: Adriana Gallassi
Edição: Paola Moraes

Para o professor Marcos Hirata, o suicídio é um assunto pouco debatido

Cerca de 3000 pessoas cometem suicídio por dia no mundo, isso significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Esses são dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2007. Para o professor Marcos Hirata Soares, bacharel em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista e mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), o suicídio é um assunto pouco debatido, e por esse motivo, as pessoas constroem pensamentos preconceituosos que as impedem de detectar e ajudar os que decidem por dar fim à própria vida.

Segundo o professor, a decisão pelo suicídio está relacionada, principalmente, aos transtornos mentais e, entre os transtornos, 80% são casos de depressão. Porém, as causas do suicídio são multifatoriais, ou seja, não há apenas uma causa que leva a pessoa ao suicídio. Na maioria dos casos, é um transtorno mental associado a algum fator do histórico da vida da pessoa – como perder alguém na família ou o emprego, o sentimento de solidão, angústia ou não ter perspectivas de melhora da condição de vida – que, juntos, são a causa mais freqüente do suicídio, explica o especialista.

Marcos Hirata também aponta o fator hereditário como um componente significativo. “Pessoas que possuem alguém na família que já cometeu suicídio, podem ter uma propensão genética para fazer o mesmo. Mas, isso não implica, necessariamente, na decisão pelo suicídio. Para o fator genético se manifestar é preciso que essa pessoa tenha algum histórico em sua vida, como os já citados, que desencadeiem essa ação.” Além disso, o professor ainda enumera alguns comportamentos que são característicos de pessoas que tem intenção de cometer suicídio. “Poucos são os que não dão sinais, como: a preocupação em fazer um testamento; cartas ou mensagens de adeus; falar frequentemente sobre solidão, morte e até mesmo sobre um encontro com pessoas que já morreram; além de escolha por isolamento.”

O preconceito da sociedade em relação ao suicídio é um empecilho para que, detectado esses comportamentos, a pessoa seja encaminhada a alguma ajuda, afirma o professor Marcos Hirata. Para ele, a postura da mídia brasileira na omissão de suicídios não é positiva. “Por não divulgar o suicídio, ele acaba se tornando um mito. E assim, ninguém sabe o que é verdade ou mentira.”, destaca. Ele afirma ainda, que essa omissão também agrava o preconceito da sociedade, que não entende o suicídio como um problema de saúde. “É importante debater isso na sociedade, mas é necessário que o repórter tenha conhecimento sobre o assunto para poder abordá-lo de maneira correta. Não se deve tratar o suicídio de modo sensacionalista, como acontece também com as drogas. É necessário ter cuidado com a opinião que se vai formar, impedindo o agravamento do preconceito” ressalta o mestre que sugere, ainda, a utilização de uma cartilha feita pela OMS, que instrui a abordagem da mídia em casos de suicídio.

Consoante dados da OMS, atualmente, o suicídio é mais frequente entre pessoas com mais de 60 anos, além de ser a principal causa de morte entre pessoas de 15 a 34 anos. Segundo o professor, esse é um dado que mudou com a crescente modernização do mundo. Há 50 anos, os casos de suicídio aconteciam entre pessoas com mais de 40 anos, ou seja, não era muito comum entre os adolescentes e os adultos jovens.

O Brasil, em relação ao mundo, não possui taxas elevadas, mas o professor Marcos Hirata esclarece que os dados brasileiros podem estar sofrendo casos de subnotificação. Isso significa que há casos que são suicídios, porém não são tratados como tal. “A dificuldade de avaliar um óbito é uma causa da subnotificação. Em um caso de atropelamento, muitas vezes não há como identificar se a vítima se colocou intencionalmente na frente do carro ou não”, exemplifica o professor. “Inclusive, é comum que profissionais da saúde, por não terem experiência, tratem um caso que tem indícios de tentativa de suicídio como acidentes.” Um exemplo do professor são os casos de intoxicação.

O mestre instrui sobre o que fazer quando os comportamentos característicos de intenção de suicídio são detectados. Primeiramente, ensina que, em casos de a pessoa verbalizar a intenção de suicídio ou a solidão que sente, não é certo fazer julgamentos e comparações com a vida de outras pessoas. O melhor comportamento é ouvi-la e lhe oferecer palavras de conforto. Já em casos de transtorno mental confirmado, a pessoa deve ser encaminhada a algum tratamento terapêutico ou ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)*. Em casos de procura de tratamento, a pessoa precisa aceitar que necessita deste, caso contrário, o tratamento pode não dar resultado.

O Centro de Valorização da Vida (CVV)** também é lembrado pelo entrevistado como um trabalho que pode ser eficaz, uma vez que, conversar e desabafar pode ajudar na prevenção do suicídio. O professor Marcos Hirata fixa também que a tentativa de suicídio não se efetiva em todos os casos. Essas situações podem deixar sequelas na pessoa que, por isso, sofre mais e até volta a tentar o suicídio. “É mais fácil atuar na prevenção do que tentar remediar depois que acontece”, atenta.

* Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário. Seu objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social. Mais informações podem ser obtidas no site: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=29797&janela=1

** O CVV é uma organização não governamental (ONG), que possui os denominados Postos CVV distribuídos pelo Brasil. Eles oferecem apoio emocional a todos que sentem necessidade de conversar com alguém, de forma gratuita. O atendimento pode ser feito por telefone, carta, e-mail e pessoalmente. Mais informações podem ser obtidas no site: http://www.cvv.org.br/

Crédito da foto: Adriana Gallassi


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