Cascas de frutas modificadas podem diminuir poluição por metais pesados

outubro 11, 2009

Projeto de mestrado em química melhora características de cascas de frutas para que possam servir como adsorventes naturais, adquirindo uma utilidade ambiental

Professor Alfaya

Pauta: Ana Carolina Contato
Repórter: Juliana Mastelini
Edição: Beatriz Assumpção e Fernanda Cavassana

O trabalho intitulado “Estudo e Desenvolvimento de Biossorventes para Metais Pesados” examina as propriedades de frutas para a adsorção dos metais cobre, cádmio e chumbo em soluções aquosas. Metais pesados são aqueles que apresentam efeitos adversos à saúde humana e o processo de adsorção é a utilização de um sólido para reter substâncias diluídas em água. O trabalho é desenvolvido pela bióloga mestranda do programa desenvolvido pelo Departamento de Química e professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Talita Caretta. Seu orientador no projeto é o professor Antônio Alfaya, graduado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A entrevista foi realizada com o professor Antônio Alfaya.

“O trabalho segue uma tendência mundial de busca de adsorventes naturais, ou biossorventes”, assegura Antônio Alfaya. Segundo o professor, trabalha-se com materiais baratos e que geralmente são descartados, dando um valor agregado para que possam resolver um problema ambiental: a contaminação das águas por metais pesados. “A pesquisa melhora características das cascas das frutas para que possam servir como adsorventes”, completa. Segundo ele, o objetivo do projeto é transformar as cascas em uma farinha que concentre os poluentes de grandes volumes em pequenas quantidades de água. Assim, diminui-se o volume da poluição, podendo fazer o tratamento de forma mais eficiente. “O tratamento de concentrações de metais pesados diluídas em grandes volumes é muito caro”, afirma.

Segundo Alfaya, “as indústrias geram esses poluentes, mas devido ao preço e por não se sentirem fiscalizadas, não usam adsorventes e descartam de forma irregular os materiais sem fazer o tratamento adequado. Hoje temos bons adsorventes sintéticos, mas são muito caros”.

O projeto, afirma o professor, pretende desenvolver um adsorvente de metais pesados com custo reduzido para que os industriais se interessem pela utilização do produto e não lancem os poluentes no meio ambiente. “O primeiro objetivo da pesquisa é ambiental, pois os adsorventes contribuem para diminuir a poluição, e tecnológico porque busca que a indústria implante o método sem resistência”, completa.

“No projeto, trabalhamos com três tipos de metais pesados que são os materiais mais comuns na nossa região por causa das empresas de baterias, o cobre, o cádmio e o chumbo”, conta Alfaya. Segundo o professor, os metais pesados acarretam riscos específicos nos seres vivos e os mais perigosos são o chumbo, o cádmio e o mercúrio. “O chumbo, por exemplo, acarreta problemas no sistema nervoso”, afirma o professor.

Talita Caretta participa da linha de pesquisa de desenvolvimento de novos materiais para aplicações ambientais e/ou tecnológicas do Grupo  de Estudo de Novos Materiais (GENM) da UEL, CNPq e Departamento de Química. Segundo Alfaya, como bióloga, o primeiro passo da mestranda foi levantar dados sobre as cascas de frutas que sobram das indústrias e quais seriam as mais interessantes para a linha de pesquisa escolhida. A partir das informações, o projeto foi elaborado e os estudos prosseguem com os materiais mais promissores na adsorção de metais pesados. “As expectativas são boas e os resultados preliminares são melhores do que o esperado”, afirma.

De acordo com o professor, o projeto será publicado em revista científica como critério do programa de pós-graduação. Junto com a mestranda Talita Caretta e o professor-orientador Antônio Alfaya, a aluna do segundo ano de Química da UEL, Camila Inagaki, trabalha no projeto como bolsista do Programa de Iniciação Científica (ProIC) do CNPq. A bolsa ProIC é um programa de apoio ao desenvolvimento da iniciação científica.