Comportamentos antissociais podem caracterizar doença

julho 31, 2010

A Personalidade Antissocial revela-se em pessoas com dificuldade em lidar com leis e regras e problemas no convívio em sociedade

O prof. dr. Dinarte Ballester, do departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina

Edição: Tatiane Hirata
Pauta: Edson Vitoretti Jr
Reportagem: Leonardo Caruso

Na sociedade, existem pessoas que tem dificuldade em seguir padrões e regras, ou
mesmo de ter um convívio saudável com os outros indivíduos de seu ciclo. Mais do que falta de moral ou respeito, certos desvios de conduta podem caracterizar uma doença conhecida por Transtorno de Personalidade Antissocial. O professor do departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina, dr. Dinarte Alexandre Prietto Ballester – graduado em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande, mestre em Ciências Médicas pela mesma universidade e doutor em Ciências – Psiquiatria e Psicologia Médica pela Universidade Federal de São Paulo – conversou com o Conexão Ciência a respeito do assunto:

Conexão Ciência: O que é o transtorno de personalidade antissocial?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Existem duas classificações principais: a da DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais), americana, e a Classificação Internacional de Doenças (CID). Para ambas, é necessário que o paciente tenha mais de 18 anos e que, durante infância e/ou adolescência, já tenha apresentado comportamentos antissociais. Caracteriza-se em pessoas que têm dificuldade de cumprir as regras ou até mesmo uma tendência a burlar as leis do bom convívio da sociedade.

Conexão Ciência: Sociopatia e transtorno de personalidade antissocial são a mesma coisa?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
De certa forma, sim. O termo sociopatia é antigo, algo em torno de 1914. Agora o nome utilizado é Transtorno de Personalidade Antissocial, para diferenciar de outros transtornos. Com o tempo, o termo sociopatia ficou carregado de preconceito e isso é ruim, já que passamos a afastar pessoas de quem deveríamos cuidar.

Conexão Ciência: Essas pessoas são apenas contra leis e regras ou possuem outras atitudes que as caracterizem com o transtorno?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Pelo lado macro é isso. Mas também acontece numa convivência interpessoal. Por exemplo, aquela pessoa no grupo de trabalho que sempre tenta se “dar bem, passar por cima”.

Conexão Ciência: Esse transtorno tem ligações com problemas de auto-estima?
Prof. Dr. Dinarte Ballester: Parece que há um mecanismo de compensação. A pessoa pode até ser bem sucedida e aparentar estar contente, mas por dentro sofre, pois existe uma auto-estima baixa ou tem dificuldade de lidar com os problemas. Essas pessoas tentam compensar o sentimento de inferioridade com atitudes que geram problemas de convivência na família, entre amigos e no ambiente de trabalho.

Conexão Ciência: Dizer que essas pessoas não possuem sentimento em relação a si e às outras é uma falsa afirmação?
Prof. Dr. Dinarte Ballester: Qualquer ser vivo tem sensibilidade. Essas pessoas têm sentimento, mas o que se diz a respeito delas, tidas como “insensíveis”, é que elas podem aparentar não se importar com o sofrimento alheio. Mas é uma fachada. Isso é um mecanismo de defesa com aspecto inconsciente.

Conexão Ciência: Existe algum fator fisiológico ou genético que influencie no desenvolvimento do transtorno?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Existem estudos genéticos que observaram famílias nas quais gêmeos apresentaram esse tipo de problemas. Gêmeos monozigóticos que foram separados e tiveram famílias diferentes, ambientes diferentes, apresentaram os mesmos comportamentos. É provável, portanto, que exista algum tipo de relação. Mas, como todos os problemas mentais, o transtorno tem causas múltiplas: alguma tendência genética, ambiente que propicie isso (família e condições de vida) e questões psicológicas. É a interação entre o físico, psicológico e genético que irá definir a doença.

Conexão Ciência: A incidência em homens e mulheres mantêm a mesma relação?
Prof. Dr. Dinarte Ballester: Não. A incidência é bem maior nos homens.

Conexão Ciência: E existe alguma idade para os sintomas começarem a aparecer?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Embora o diagnóstico só possa ser feito a partir dos 18 anos de idade, a pessoa pode apresentar algum comportamento diferente antes disso, o que nos leva a crer que as medidas devem ser tomadas já quando crianças. A sociedade tem que se fiscalizar para não valorizar atitudes que estimulem essas condutas, como a competição na qual um tem que se dar bem sobre o outro. As pessoas que se sobressaem às custas das outras não devem ser vistas com bons olhos.

Conexão Ciência: O Transtorno Antissocial tem cura?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Ele tem cuidado. Entender essa pessoa, ajudá-la a melhorar. Existem tratamentos que podem ser feitos com medicamentos, psicoterapias e apoio familiar. No geral, pessoas mais velhas tendem a melhorar.

Conexão Ciência: Existem classificações para a doença?
Prof. Dr. Dinarte Ballester: Não existem classificações, apenas diferentes intensidades da doença, afetando mais ou menos a vida do indivíduo. Num presídio, por exemplo, é mais comum encontrarmos pessoas com um transtorno acentuado.

Conexão Ciência: O presídio é uma consequência das atitudes antissociais ou é causa do transtorno? Qual a relação da criminalidade com o problema?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Começa com o problema e acaba lá. Mas estar em um presídio pode ser um agravante da doença, já que o ambiente não favorece em nada quem sofre do transtorno.

Conexão Ciência: Existem centros de tratamentos?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Confesso que desconheço e acredito que não seja recomendado o agrupamento de pessoas com esse problema, a fim de evitar o agravamento dos casos. O que existe são os serviços de saúde, principalmente os de saúde mental.

Conexão Ciência: Quais os riscos da doença para o indivíduo e para a sociedade?
Prof. Dr. Dinarte Ballester: Os riscos para pessoa com transtorno são de sofrer problemas de saúde, por assumirem comportamentos de risco, como abusar de substâncias ilícitas. Essas pessoas podem ter problemas de convivência familiar e no trabalho. Para a sociedade, os riscos são baixos, pois poucos indivíduos desenvolvem níveis altos do transtorno, tornando-se perigosos. A boa convivência em sociedade é o que mais é afetado.

Conexão Ciência: E como devemos lidar com pessoas que apresentam o Transtorno?
Prof. Dr. Dinarte Ballester:
Temos que fazer o contrário do que é comum fazer: incluir. É comum as pessoas excluírem quem tem o transtorno, mas isso não faz bem a ninguém. Não é fazer tudo o que o doente quer, mas também não reduzir as oportunidades de recuperação. É necessário ter paciência, procurar ajuda profissional, acreditar que quem sofre de transtornos pode melhorar. Devemos encarar como problema de saúde e não como falta de moral.

Créditos da foto: Leonardo Caruso

Ano 7 – Edição 98 – 31/7/2010


Mídia e política: influência sobre o poder de decisão dos eleitores

julho 31, 2010

Projeto visa definir o enquadramento do telejornalismo  em relação aos assuntos de política  e eleições

A professora dra. Florentina das Neves Souza, que coordena o projeto

Edição: Tatiane Hirata
Pauta: Edson Vitoretti Jr
Reportagem: Isabela Nicastro

A mídia tem grande poder de influência sobre as pessoas. Por meio dela, a moda e os costumes são ditados. Além disso, pode-se observar a tendência de alguns telejornais  em privilegiar ou denegrir certos candidatos em época de eleições. Com o propósito de fazer um estudo da capacidade de persuasão da mídia sobre o voto, foi criado o projeto de pesquisa “Construção de imagem e o discurso político-ideológico dos pleitos eleitorais: um estudo da cobertura telejornalística e sua influência nas eleições envolvendo as esferas municipais e federais”, do departamento de jornalismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Coordenado pela professora Dra. Florentina das Neves Souza, o projeto teve início em março de 2008 e tem término previsto para outubro de 2011. A coordenadora possui graduação em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina, mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. É professora e pesquisadora da UEL, com experiência em Telejornalismo, pesquisa e docência na área de Comunicação, com ênfase em Produção telejornalística. É autora do livro “Telejornalismo e Poder nas Eleições Presidenciais”.
O projeto é uma extensão da tese de doutorado da professora, que inspirou-se na polêmica edição do Jornal Nacional em que foi ao ar o debate entre os candidatos à presidência  Luís Inácio da Silva e Fernando Collor. 

Como exemplo de manipulação da mídia, a Dra. Florentina Souza cita a divulgação, em 2002, de matérias jornalísticas pelo Jornal Nacional, denegrindo a imagem do então candidato à presidência Ciro Gomes.  “Foram mostradas imagens do candidato aliado ao Fernando Collor, bem como cenas em que Ciro Gomes demonstrava-se explosivo e perturbado. Essas imagens contribuíram para que o candidato caísse do segundo lugar para o quarto”, exemplifica a professora . “Pode-se verificar que a manipulação da Globo naquela época foi apenas o estopim da situação, pois houve toda uma construção diária da imagem benéfica de Fernando Collor”.

Em contrapartida, a coordenadora cita a vitória do candidato à prefeitura de Londrina, Nédson Micheletti, em 2000. O candidato tinha pouca intenção de voto e pouca divulgação pela mídia, porém, sua vitória foi resultado de uma divulgação dos próprios cidadãos, partindo de uma ostensiva militância em favor de Nedson e rejeição aos aliados de Antônio Belinati .
Segundo a coordenadora, para elaboração do projeto, foram  feitos grupos de estudos sobre mídia e política, baseados nas universidades que estudam esse tema, como o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), pertencente à Universidade Cândido Mendes, o  Núcleo de Estudos de Mídia e Política(NEMP) da UNB e Núcleo de Estudos em Artes, Mídia e Política (NEAMP) da PUC de São Paulo.
Após isso, foram gravados os telejornais de Londrina da TV Tarobá e da TV Coroados na época das eleições municipais de 2008, para fazer uma análise de conteúdo e identificar o enquadramento dos assuntos eleitorais nos telejornais. A partir da metade do ano passado, iniciou-se o estudo do Jornal Nacional, da Rede Globo, o  telejornal mais assistido em todo o país – de acordo com a dra. Florentina Souza -, na cobertura das eleições presidenciais de 2010.
Professora Dra. Florentina Souza explica que alguns critérios são utilizados para a análise das imagens nos telejornais, como os conceitos de valência equilibrada, positiva, negativa e neutra. “A valência equilibrada acontece quando há divulgação de momentos positivos e negativos de um determinado candidato; a positiva é quando, em reportagens, notícias e entrevistas, há aspectos que valorizam certo candidato; a negativa é quando há um discurso das emissoras acusando, denegrindo a imagem de um candidato; e a neutra é a simples divulgação do candidato pelo telejornal”, explica. “A partir desses conceitos, é possível identificar se o jornal foi tendencioso ou não, querendo atacar ou privilegiar determinado candidato”. 
Como resultado das análises dos projetos, os alunos participantes estão apresentando artigos em congressos que resultarão na publicação de uma revista ao final do  projeto e alguns já preparam o TCC sobre o assunto. Soraia Valência de Barros, estudante do quarto ano de Jornalismo da UEL e participante do projeto, desenvolveu um subprojeto que originará um artigo sobre pré-eleições e o Jornal Nacional. O recorte do projeto engloba os períodos de setembro a dezembro de 2009. O objetivo é observar se houve algum escândalo político midiático nesse período e se ele foi agendado pelo Jornal Nacional a tal ponto que pudesse interferir na pré-candidatura de algumas das personalidades políticas cogitadas como possíveis sucessores do presidente Lula.
 
“Até o momento, o que pudemos verificar na pesquisa foi que não houve um escândalo de peso, como um ‘mensalão’ (que foi o escândalo político midiático explorado pela mídia em 2005). Aliás, a maioria das reportagens teve um peso positivo para o presidente Lula. No entanto, o mesmo não ocorreu com Dilma Roussef, hoje candidata pelo PT à presidência da República. Das pouquíssimas notícias divulgadas – no mês de outubro de 2009, por exemplo – foram feitas apenas três reportagens, duas delas  de peso negativo para a candidata”, afirma Soraia Barros, participante do projeto há cerca de um ano.
 
A estudante finaliza com sua opinião sobre o objetivo do projeto “Ao levar em consideração que o telejornal agenda os assuntos que estarão em debate na sociedade, é imprescindível pesquisar, estudar e avaliar o que é feito pelos veículos de comunicação brasileiros. E, assim, fomentar que tipo de jornalismo nós, não só jornalistas mas também telespectadores, buscamos”, declara Soraia Barros.
 
Créditos da foto: Isabela Nicastro
 
Ano 7 – Edição 98 – 31/7/2010

A importância do resgate histórico como forma de conhecimento

julho 31, 2010

Projeto tem como objetivo recuperar e analisar historiograficamente a Força Expedicionária Brasileira

Foto histórica mostra integrantes da FEB, os pracinhas, na Itália

Edição: Tatiane Hirata
Pauta: Laura Almeida
Reportagem: Deborah Vacari
Recuperar a história nacional é o que visa o projeto “Força Expedicionária Brasileira: análise historiográfica e documental”, criado em março de 2010 e coordenado pelo professor doutor Francisco César Alves Ferraz – que possui graduação e mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). O projeto, que conta com seis graduandos*, pertence ao curso de História da Universidade Estadual de Londrina.
 
O professor dr. Francisco Ferraz explica que, em 1942, depois de submarinos alemães torpedearem navios mercantes na costa do Brasil, este declarou estado de beligerância e, em agosto do mesmo ano, declarou guerra ao Eixo – Alemanha, Japão e Itália. Finalmente, em 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB) . “Esse projeto surgiu com a carência de conhecimento a respeito da FEB, esta que foi a única força latino-americana a lutar na Segunda Guerra Mundial”, afirma o professor.

O pesquisador ressalta que a FEB possuía autonomia administrativa, no que diz respeito ao comando, porém para serem tomadas decisões era necessária a anuência dos norte-americanos. Além dos bens materiais para a utilização na guerra, que eram fornecidos pelos norte-americanos, o exército brasileiro adotava também a forma organizacional destes, que adotava, anteriormente, a forma francesa, por estes terem ministrado lições aos oficiais brasileiros na década de 1920. “A diferença entre essas duas formas organizacionais é que a norte-americana, diferentemente da francesa, visava preservar a vida dos soldados, tendo, assim, o material bélico um caráter descartável nesse contexto que se relaciona a uma mentalidade cidadã”.

 
A respeito dos aspectos funcionais da participação do Brasil no combate, o professor dr. Francisco Ferraz explica que o país participou de três maneiras da Segunda Guerra Mundial: “a primeira foi por meio do fornecimento de matéria-prima – borracha e alimentos para os aliados – que compreendiam os Estados Unidos da América, União Soviética, Inglaterra, França, Canadá e mais alguns países, entre os quais, o Brasil . A segunda, cedendo bases aéreas e navais aos EUA, situadas nas regiões norte e nordeste do nosso território. E a terceira maneira foi o combate direto”.
 
Com relação aos combatentes, o professor revela que 25 mil – cerca de 0,06% da população brasileira – participaram da guerra. A seleção consistia em alguns pré-requisitos: ter pelo menos 1,60 metro de altura, peso mínimo de 60 quilos, 26 dentes naturais e alfabetização mínima de cinco anos. “Com essa seleção, pode-se obter um retrato da saúde do brasileiro e também da situação em que o país se encontrava”, afirma.
 
De acordo com o professor dr. Francisco Ferraz, os significados e consequências da guerra foram muitos, tanto no universo individual, quanto no que tangencia o universo econômico. “Os indivíduos, que voltavam mutilados, tiveram pensão do governo somente depois de seis meses do término da guerra. Os que tinham emprego, na maioria das vezes, o perdiam, ou seja, os combatentes não tinham auxílio. Economicamente, a guerra foi uma oportunidade perdida, porque os industriais preferiram acumular capital ao invés de investi-lo. Sendo assim, mantiveram a indústria brasileira sucateada. Os EUA, ao contrário do Brasil, investiram – por conta da necessidade – em tecnologia e, após a guerra, conseguiram um grande desenvolvimento econômico”, conta Ferraz.
 
“Há dificuldade para se encontrar a documentação, porque este material esta disperso”, revela o coordenador que, recentemente, visitou o Arquivo Histórico do Exército e o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial – ambos situados no Rio de Janeiro – , juntamente com seus alunos, buscando informações sobre a FEB.

Através desse levantamento histórico – que se iniciou em 1999, com o doutorado do professor Francisco Ferraz – será possível resgatar, de modo geral, a história da FEB, ou seja, o resgate compete em todas as modalidades, especialmente no estudo da memória escrita . “Esse resgate pode ser feito, por exemplo, na música – feitas para a guerra – na cinematografia e também na iconografia, como a produzida por Carlos Scliar** – combatente convocado para integrar a FEB. Levantando informações de várias fontes, faremos, assim, um ‘balanço’ historiográfico sobre as versões da Força Expedicionária Brasileira”, conclui.


<i>*Os alunos participantes do projeto são: Alessandra Maisen, Marcelo Garcia Bonfim, Maico Moura, Pauline Bitzer Rodrigues, Rafael Botega e Renata Viana.

**O gaúcho Carlos Scliar iniciou, desde cedo, cursos de arte na cidade de Porto Alegre. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, cenógrafo, roteirista e designer gráfico. Convocado para a Segunda Guerra Mundial foi, então, para Itália entre 1944 e 1945. Em 1969 publica “Caderno de Guerra de Carlos Scliar”, com seus desenhos realizados durante a guerra. Nos anos 80 e 90, Scliar ilustrou livros de escritores renomados e participou, com depoimentos, de vídeos produzidos por diretores, até então independentes, sobre a arte atual. (fontes: http://www.pinturabrasileira.com; www.escritoriodearte.com)

Créditos da foto: Banco de imagens do Exército Brasileiro sobre a FEB: http://www.forte.jor.br/tag/exercito-brasileiro/page/2/
  
Ano 7 – Edição 98 – 31/7/2010 </i>

Natação como meio de integração social

julho 31, 2010

Projeto de extensão promove o aprendizado de natação para crianças com deficiências

Professora Dra Márcia Greguol, coordenadora do projeto Natação para Todos

Edição: Tatiane Hirata
Pauta: Laura Almeida
Reportagem: Renan Cunha

A inclusão social de deficientes é um dos desafios mais importantes de nossa sociedade. Promover a vivência lúdica, perceber o potencial e não as limitações dessa categoria social permite a integração e o desenvolvimento harmônico entre todas as classes. É o que objetiva o Projeto de extensão “Natação para todos” do Departamento de Ciências do Esporte da Universidade Estadual de Londrina (UEL), coordenado pela professora Dra. Márcia Greguol, bacharel em Esporte  e doutora pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP).

A ideia do “Natação para todos” surgiu de uma experiência que a professora Márcia Greguol teve com a ONG Associação Desportiva para Deficientes, de São Paulo. “Lá nessa ONG, eu tinha esse projeto e quando cheguei aqui decidi fazê-lo na versão Londrina”, revelou. O projeto atende crianças e adolescentes com deficiências, desenvolvendo suas capacidades e autonomia na água. As atividades são feitas em grupo e contam com a participação de oito a dez estudantes do curso de Esporte da UEL.

De acordo com a professora Dra.  Márcia Greguol, os níveis de aprendizagem vão desde iniciação até aperfeiçoamento, passando pelos quatro estilos de nado: nado livre (crawl), costas, peito e borboleta. As aulas também permitem a inclusão de crianças de diferentes tipos de deficiência. “Crianças com deficiência visual ficam o dia inteiro em uma instituição para deficientes visuais e, de repente, aqui pode ser o lugar onde se pode unir diferentes deficiências. Nós procuramos separá-los não por deficiência, mas por nível de habilidades no nado” declarou.

Durante as aulas, a professora procura elencar ensino com diversão, usando métodos que estimulem o desejo dos alunos de aprender, respeitando a faixa etária de cada um. “Aos pequenininhos, nós procuramos dar brinquedos, cantar músicas que os motivem e para os mais velhos é feita uma aula mais formal”, explica a Dra. Márcia Greguol.

A participação dos estudantes da UEL no projeto também é fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos ofertados. “Se não houvesse pessoas para me ajudar, acho que seria inviável a realização do projeto”, confessa a idealizadora. Além disso, ao ajudá-la, os universitários adquirem experiência didática, o que os beneficiará no futuro, pois estarão aptos ao trabalho com essa população.

De acordo com a dra. Márcia Greguol, alguns cuidados são necessários para que o aprendizado dos alunos seja possível. Ela orienta a não se colocar a deficiência em primeiro plano, mas sim as possibilidades da criança: “Se chegar um cadeirante aqui e eu olhar apenas para cadeira de rodas e não para pessoa que está acima dela eu o estarei subestimando”. A professora acrescenta ainda que a liberação médica, como para qualquer pessoa, é imprescindível para poder participar.

A respeito de casos de alunos do projeto que a surpreenderam, a dra. Márcia Greguol comenta sobre o medalhista paraolímpico Daniel Dias*. Orgulhosa, a coordenadora revelou que Dias foi um de seus alunos durante o tempo em que trabalhou na ONG de São Paulo e que desde o início, o atleta já apresentava grandes potenciais. “O Daniel tinha uma consciência corporal que era uma coisa absurda. Era nítido que ele seria o que é hoje”, afirmou.

“Natação para todos” foi iniciado em maio do ano passado e desde então tem alcançado êxitos na integração de pessoas com deficiências. O projeto é gratuito e pretende abrir mais uma turma de alunos. As aulas acontecem todas as terças-feiras na piscina térmica da UEL, no Centro de Educação Física e Esporte (CEFE).
 
Serviço: os interessados em participar e que se encaixam no perfil dos alunos podem entrar em contato através do telefone (43) 3371-4208.
 
*Daniel Dias: Atleta paraolímpico brasileiro recordista mundial em natação. Nasceu com má formação congênita dos membros superiores e perna direita. Descobriu o esporte aos dezesseis anos. Nos jogos Olímpicos de Pequim, conquistou nove medalhas, incluindo quatro de ouro nas modalidades 100m livre (com 1min11s05), nos 200m livre (com 2min32s32), nos 200m medley (2min52s60) e nos 50m costas. Foi considerado o melhor atleta paraolímpico de 2007 pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
 
créditos da foto: Renan Cunha
 
Ano 7 – Edição 98 – 31/7/2010