Violência, educação e indisciplina

maio 1, 2011

Os temas são abordados por profissionais de diferentes áreas do conhecimento em livro organizado por duas professoras da UEL


Pauta e Edição: Karina Constancio
Reportagem: Leonardo Caruso

Lançado em abril, livro “Violência, educação e indisciplina”, de duas professoras do Departamento de Educação da UEL reúne textos de autores que se encontram em diferentes áreas do conhecimento. Uma das organizadoras, a professora Leoni Maria Padilha Henning, graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Educação pela Mississippi State University e doutora, também em Educação, pela Universidade Estadual Paulista, explicou os motivos da criação da obra, suas relações com a realidade em que estamos inseridos e como foi desenvolvido o projeto.

Conexão Ciência: Como surgiu a ideia do livro?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Há alguns anos, um dos colegas de departamento, então diretor do Colégio de Aplicação, teve a idéia de fazer um curso de capacitação (sobre o tema violência e indisciplina na educação) dos docentes do Aplicação e chamou alguns professores do nosso departamento, incluindo eu e a professora Maria Luiza Macedo Abudd, também organizadora do livro, além de outros colegas de outros departamentos em suas diferentes áreas de conhecimento e por 2 anos trabalhamos nesse curso. Nunca tinha pensado esse assunto a partir da filosofia. Achei muito interessante fazer uma análise desse fenômeno a partir de diferentes olhares. Então pensei e falei com minha colega e propus a ela.

Conexão Ciência: E qual é a intenção de vocês ao criarem esse livro? Querem atingir que público?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Diante daquela experiência, a fomentação e estimulo da participação de diferentes profissionais sobre o problema é, como cidadãos, um compromisso, uma responsabilidade e no livro abarcamos quem poderia contribuir com o assunto. É um convite para que todos entrem nesse início de debate sobre o problema da violência e educação.

Conexão Ciência: Esse livro é focado aos professores ou algum ramo de profissionais?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Eu penso que pode ser usufruído por diferentes setores. Por estarmos trabalhando com estudantes e professores, logo pensamos nesse público. Mas professores, estudantes e cidadãos comuns podem usufruir do livro.É indicado a todos que quiserem se ocupar desse fenômeno social hoje tão incrementado e com situações cada vez mais assustadoras.

Conexão Ciência: Visto esses acontecimentos recentes como casos de bullying e o ocorrido no RJ, o livro traz informações para orientar pessoas que queiram saber como lidar com essas situações?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Eu penso que sim. Aqui no livro você vai encontrar a discussão sobre a violência e indisciplina na escola, que é um caso. Mas também há o caso de violência da escola.</i>

Conexão Ciência: O que seria a violência da escola?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning:  Seria o preconceito que está de alguma forma subsumida no comportamento dos professores, funcionários da escola ou na própria grade curricular, havendo previlégio de um assunto em detrimento de outro. Há também a exclusão, pessoas que não são consideradas na discussão do todo daquela comunidade escolar ou não são consideradas em suas individualidades ou cultura. Para essas pessoas, a escola deve ser desconfortável e traumática. Há situações explícitas de violência, e há as implícitas, sugeridas de alguma forma. Muitas vezes a pessoa fala “eu não quis dizer isso! Não quis fazer aquilo!”, mas faz e acaba prejudicando os outros. Às vezes num grau profundo. Tem violência em relação às pessoas, em relação às coisas, às edificações – quando as pessoas quebram as coisas, fazem vandalismo ou roubam o que é patrimônio de todos ou que assim deveria ser entendido. São situações que se pensarmos bem, vão além da escola. A educação, por si mesma, se define como grande esperança na humanidade. Se nós pensarmos que há essas situações desses níveis e que elas afetam a formação humana, acho que é um problema que os educadores deveriam tomar como interessante e não só educadores na escola, mas todos nós exercendo nosso papel, quando educamos de alguma forma o irmão, algum membro da família, os colegas. Nós somos educadores que participam de uma sociedade. Pelo menos deveríamos pensar assim.</i>

Conexão Ciência: Enquanto organizava esse material, a Sra. chegou a alguma conclusão das causas dessa violência e/ou indisciplina?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: De tudo isso que falamos, podemos perceber quão extenso é o alcance desse tipo de situação e como exige uma consideração muito ampla. Se pensarmos numa sociedade hoje que nos oferece uma série de benefícios, uma série de benesses que podemos usufruir, mas que por outro lado nos coloca com tantas possibilidades, a agitação em que vivemos, querendo fazer tudo, faz com que as famílias se desagreguem um pouco, se desunam, vivendo cada um pra si, cada um fazendo as suas coisas. Há essa preocupação com a formação humana enquanto sociedade. Podemos resgatar a idéia da PAIDEIA GREGA em que as pessoas se preocupavam, tomadas as devidas proporções, com a discussão daquilo que era a virtude do homem grego, feitas nas praças, quais seriam essas virtudes, as mais interessantes para que o sujeito pudesse se inserir na sociedade e fazer diferença nela, ser realmente um cidadão. Era uma concepção de cultura, de educação e formação muito ampla, que abarcava esse espírito do homem dentro de uma sociedade. Com a modernidade e todas essas características do mundo moderno, acabamos atribuindo a uma entidade, a escola, essa função. Esquecemos que a escola está ligada a uma hierarquia de poder, como o estado, tendo que obedecer à políticas públicas e que por outro lado impõem à criança algumas situações que se entendem as mais importantes para a formação. E muitas famílias não se sentem incluídas nesse processo. Então há toda uma rede de instituições dentro da qual a escola está inserida. Observando isso, como vamos dizer onde está a causa [da violência e indisciplina]? Pode estar na família e refletir diretamente na escola, pode estar na dificuldade que o estado tem tido de operar no âmbito da segurança pública, pode ser o problema do desarmamento e a facilidade que as pessoas têm [em adquirir armas], podem ser muitas coisas que somam. Daí a importância dessa forma com que encaramos o fenômeno, chamando para o debate diferentes setores da sociedade, diferentes pessoas de diferentes formações. O próprio fenômeno exige isso. É uma concepção de homem e de sociedade que precisamos investir, nos sentindo corresponsáveis nessa formação.

Conexão Ciência: Como está organizado o livro?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: O livro tem 9 partes. A primeira são autores que falam sobre violência, indisciplina e educação a partir de uma análise da contribuição da filosofia da educação. Na segunda parte, o tema é ‘analisado’ pela história da educação. Na terceira parte, uma análise pela psicologia da educação. A quarta parte trata das contribuições da antropologia e sociologia da educação. Na quinta parte nos temos ‘violência, indisciplina e educação: uma análise a partir das contribuições da arquitetura e urbanismo’. Na sexta, temos a contribuição da arte e da linguagem. Depois, na sétima parte, temos a contribuição das políticas publicas e do direito. Na parte oito, as contribuições da área da saúde. O esporte entra nessa área, e, como sabemos, é muito importante para a questão de inclusão social e criação de vínculos afetivos. Na nona parte encontramos a avaliação e gestão escolar. No total são 33 autores. Alguns convidados incluíram orientandos na produção dos artigos.

Conexão Ciência: A contribuição da arquitetura e urbanismo vem como na questão da violência?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Muitas vezes, aquilo que é patrimônio histórico e tombado como tal, pode não ser bem compreendido pelas pessoas. Pode ser visto como algo que de alguma maneira é uma agressão a essa pessoa. Também suponhamos uma escola arquiteturalmente importante, mas você vê crianças vandalizando e banalizando a construção. Nesse caso, a criança pode não se sentir incluída nessa realidade. O ambiente escolar, estruturalmente, pode encorajar ou desencorajar a movimentação dos alunos e professores pela escola, incentivando ou não a interação entre as pessoas. Existem estruturas que são extremamente limitantes nesse aspecto. É importante o espaço, sentir-se acolhido nele. Há uma questão de ordem pedagógica também. Não adianta o professor se propor a inovar se o espaço no qual trabalha não permitir.

Conexão Ciência: E como foi o processo de seleção dos autores e textos?
Profª. Dra. Leoni Maria Padilha Henning: Foi um trabalho interessante. Busquei muito pela internet. Entrei pelo [site do] CNPq e procurei por assuntos. Quando encontrava alguém que estava ligado ao tema que queria, buscava no currículo suas publicações, o que ela tem feito, onde ela trabalha, há quanto tempo lida com a questão. Conforme eu via que se encaixava, entrava em contato. Muitas pessoas que não me conheciam, e que ainda não conheço pessoalmente, participam da obra.


Alunos de odontologia levam informação e atendimento à população carente

maio 1, 2011

Programa de extensão do Departamento de Odontologia da UEL procura passar conhecimentos sobre saúde bucal à população não assistida pelo governo

Pauta e Edição: Beatriz Pozzobon
Reportagem: Pamela Oliveira

“O Programa de Educação Continuada em Saúde Bucal visa atender uma população até então desassistida no que diz respeito a seus problemas bucais”, disse o professor Wagner José Silva Ursi, atual coordenador do projeto, graduado na Universidade Estadual de Londrina (UEL) em odontologia, mestre em Clínicas Odontológicas pela Universidade Paulista e doutor em Materiais Dentários pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ele, o objetivo do programa, que é realizado há mais de dez anos, é conscientizar os atendidos, ensinando toda a parte preventiva, incluindo bocheco, escovação supervisionada e orientação.

O professor doutor diz ainda que o programa atende aproximadamente dez mil pessoas por mês em todo o município de Londrina, sendo que houve épocas em que o número de atendimentos era maior. “A demanda vem de uma população reprimida e não assistida. Algumas escolas do estado não conseguem atender, então nós acabamos atendendo. Quem determina parte do atendimento é o gestor municipal”, explica, acrescentando que o programa também alcança, além de escolas, outros grupos não previstos pelo município, como asilos, pastorais e creches.

Wagner José Silva Ursi explica que o programa também visa atender aqueles que possuem câncer bucal. “As técnicas em higiene dental, acompanhadas dos alunos de graduação, fazem os atendimentos e, ao detectarem alguma anomalia intra-bucal, encaminham os pacientes ao setor competente dentro da Universidade para fazer o diagnóstico precoce de lesões cancerizadas”, esclarece. Ele explana ainda que o câncer bucal tem uma ocorrência muito alta, principalmente oriundo de hábitos como fumar e ingerir bebidas alcoólicas, afirmando que se detectado precocemente há uma grande chance de cura e, para isso, é necessário consultar um dentista regularmente.

Segundo o professor doutor, os alunos de odontologia que participam do programa se beneficiam muito, pois saem da visão protecionista “intra-muro” da universidade e entram em contato com a realidade da população que atendem. Para ele, como professor e coordenador do programa, é necessário e faz parte da formação do profissional da área da saúde, não só o atendimento da doença, mas também a conscientização dos problemas sociais. “É o aluno quem atua no programa, junto com as técnicas em higiene dental, sob delegação. São eles que fazem todo o procedimento e os levantamentos para sabermos se o programa está dando resultado”, afirma.

O professor explica que para realizar o programa, os alunos de odontologia vão diretamente às escolas, creches, asilos, pastorais e centros comunitários, basicamente para prevenção e conscientização. “O atendimento é feito em cadeiras com iluminação artificial e, apenas quando é detectado alguma doença, quando necessita de atendimento curativo, encaminhamos o paciente para o setor competente da universidade”, diz.


Projeto oferece consultoria para micro e pequenas empresas

maio 1, 2011

Realizado pelo departamento de administração da UEL, disponibiliza conhecimentos acadêmicos para auxiliar a sociedade

Pauta e Edição: Karina Constancio

Reportagem: Guilherme Vanzela

O projeto de extensão de atendimento às organizações empresariais e socioeconômicas de micro e pequeno porte (PROEMS) é coordenado pelo professor Saulo Fabiano Amâncio Vieira, que é graduado em administração pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mestre e doutor em administração, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pela Universidade 9 de Julho (UNINOVE), respectivamente. Segundo Saulo Vieira, o estudo busca aplicar o conhecimento de alunos, auxiliando pequenos e médios empresários. “O principal objetivo do projeto PROEMS é prestar serviços de consultoria pra micro e pequenas organizações, fazendo com que os alunos de administração e secretariado executivo possam aplicar na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, todos com supervisão de docentes”, coloca o Professor Doutor.

O projeto, que teve início no ano de 2010 e tem término previsto para o ano de 2013, possui objetivos específicos. Entre eles: “ampliar a vivência, oferecer conhecimentos adquiridos aos empresários, oportunizar orientação no desenvolvimento de novos negócios, montar um banco de dados destas empresas aqui na administração e, também, garantir condições de desenvolvimento de atividades acadêmicas como uma forma de atividade complementar para nossos alunos,” revela Saulo Vieira.

Uma das atividades práticas desenvolvidas pelo projeto, atualmente, consiste em auxiliar a comunidade indígena da reserva do Apucaraninha, localizada na cidade de Tamarana, no Norte do Paraná“Na verdade este é um dos subprojetos do PROEMS e, em conjunto com o professor Benílson Borinelli*, estamos assessorando a comunidade na estruturação administrativa, buscando um modelo de gestão num programa de sustentabilidade que está sendo implementado lá. Este programa conta, também, com o auxílio de estudiosos de outras áreas, contabilizando ao todo 40 pesquisadores,” pontua o coordenador do projeto.

Outra atividade do projeto consiste no auxílio ao Pró-Esporte, que administra o time de vôlei da cidade de Londrina. “Estamos realizando, a partir do ano de 2011, uma assessoria ao Pró-Esporte que está sendo prestada através do professor Edson Antônio Miura**, o coordenador deste subprojeto. O intuito é criar uma maior identidade do time com as pessoas de Londrina pelo fato de a cidade ainda não ter um histórico de ir torcer pelo time de vôlei, e, também, assessorar na parte do marketing, na qual o professor Miura é especialista”, diz o Doutor.

Ele fala, também, que o projeto busca auxiliar a pequenos e médios empresários de qualquer área, e que havendo interesse basta entrar em contato. “Micro e pequenos empresários que tenham interesse, que estejam abrindo novos negócios, podem entrar em contato com o departamento e requisitar a assessoria, que é feita gratuitamente”, salienta o Professor Doutor Saulo Vieira.

Departamento de Administração da UEL: (43) 3371-4275

* Benílson Borinelli: possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992), mestrado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2007).

** Edson Antônio Miura: possui graduação em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (1990), graduação em Comércio Exterior pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (1992) , especialização em Desenvolvimento Gerencial e Marketing pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (1992) , mestrado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998) e doutorado em Ciências Empresariais pela Universidad Del Museo Social Argentino (2007) .


Projeto analisa Período Militar no Brasil

abril 20, 2010

Estudo busca discutir e ampliar os conhecimentos a respeito dos governos militares na América Latina, com destaque para o brasileiro


Edição: Fernanda Cavassana
Pauta e Reportagem: Guilherme Vanzela

O projeto “O Brasil se prepara para o golpe militar” coordenado pelo professor Hernan Ramiro Ramirez, Licenciado e Bacharel em História e Mestre em Partidos Políticos pela Universidad Nacional de Córdoba (Argentina), Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRS), e Pós-Doutorado em Ciência Política no Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (IUPERG), aborda segundo o doutor Ramirez, um tema muito importante em muitos aspectos, não apenas desde o ponto de vista histórico. “Muitos desdobramentos têm tido consequências políticas e sociais concretas para a vida em democracia”, afirma o coordenador.


De acordo com o Dr Hernan Ramirez, o tema da ditadura militar se encontra ainda um tanto encoberto para a sociedade brasileira. “O que me preocupa é que as ditaduras são vistas como militares e não em toda sua dimensão. A sociedade civil participou, por isso devemos considerar esses eventos como civico-militares. Empresários, meios de comunicação, igrejas, políticos de diversos partidos, ainda na ativa, e acadêmicos, dentre outros, foram fundamentais para desestabilizar os governos democraticamente constituídos e fizeram parte das administrações autoritárias”, argumenta Hernan Ramirez.

O papel dos meios de comunicação no período e o discurso que os militares transmitiam por meio deles,é presente nas discussões do projeto. De acordo o Dr Ramirez, “os militares não agiram sozinhos, eles tiveram apoio para deslegitimar o governo Jango, durante o golpe e para tocar e legitimar a ditadura depois. O Estadão estava metido no golpe até o pescoço. A Folha inclusive emprestava seus carros para a operação Bandeirantes. Apenas a Última Hora do Samuel Wainer, sustentava o Jango”, e ele complementa falando que os militares optaram em usar os meios de comunicação já existentes, comprando espaço e pressionando alguns dos seus donos, editores e jornalistas ao invés de criar meios próprios.

A questão da “marcha da família com Deus pela liberdade”, movimento que deu certa sustentação ao regime militar, também é abordada no projeto. O professor identifica que houve grande manipulação para que realmente ocorresse o protesto. “No meu livro e no do Dreifuss¹, que me serviu de base, fica claro que não foi um movimento espontâneo, importantes setores da sociedade civil estavam participando de forma articulada. Inclusive, já em 1962, em uma reunião do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), um dos seus membros colocava a questão de como a classe média poderia ser manobrada para os seus propósitos. E mais, colocava a mulher como virtual ponta de lança da estratégia. A aliança da cruz, da espada e do dinheiro já se deu várias vezes na história mundial. A Igreja até essa época tinha muito poder ideológico. No entanto devemos distinguir: a Igreja de 1964 não era a de 1968”, afirma o professor.

Ao ser perguntado sobre punições as pessoas envolvidas em crimes de tortura, Hernan Ramirez fez a seguinte consideração: “O delito de tortura é considerado pela justiça internacional como imprescritível. Devem ser julgados, não apenas para punir, mas para demonstrar que as instituições funcionam e reparam, mas tarde do que cedo, as atrocidades cometidas”, e conclui dizendo: “Essas são discussões circulares, que permanecerão vivas enquanto os atores sociais que as protagonizaram permanecerem vivos e as suas consequências ainda sejam sentidas”.

1. O cientista social René Armand Dreifuss é graduado em Ciências Políticas e História pela Universidade de Haifa, em Israel, mestre em Política, pela Universidade de Leeds e PhD em Ciência Política pela Universidade de Glasgow, ambas na Grã Bretanha. Escreveu vários livros como 1964: A Conquista do Estado (Vozes, 1981); A Internacional Capitalista (Espaço & Tempo, 1986); O Jogo da Direita na Nova República (Vozes, 1989); Política, Poder, Estado e Força – Uma Leitura de Weber (Vozes, 1993); A Época da Perplexidade (Vozes, 1996).

Ano 7 – Edição 87 -18/04/2010


Política e Religião são focos de projeto do departamento de Ciências Sociais

abril 20, 2010

A pesquisa tem como objeto de estudo o discurso-memória de lideranças religiosas da Igreja Católica na Arquidiocese de Londrina

Edição: Fernanda Cavassana
Pauta e Reportagem: Bruna Letícia Gonçalves

O projeto de pesquisa “Religião e Política em Londrina-PR: O Discurso- Memória das Lideranças Religiosas” orientado pelo doutor Fábio Lanza ” graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com doutorado na área pela mesma universidade e docente deste mesmo curso na Universidade Estadual de Londrina (UEL) “visa estabelecer relações entre as posturas assumidas pelos diversos setores da Igreja Católica em Londrina, a experiência pessoal dos futuros entrevistados, pertencentes ao clero católico londrinense, e os posicionamentos político-ideológicos do período da Ditadura Militar (1964-1985).

Durante a graduação, o professor enveredou na pesquisa sobre “a Ditadura Militar e a Igreja Católica” e, com uma proposta de mestrado sobre “Discurso-Memória do Clero da Arquidiocese de São Paulo”, trouxe esta mesma idéia de estudos para Londrina.

O Projeto abrange tanto a disciplina de Ciências Sociais, como as de História e de Serviço Social. Assim, está associado com o Laboratório de Estudo sobre Religiões e Religiosidades (LER) – vinculado com a Associação Nacional de História (ANPUH) – e com a disciplina Sociologia das Religiões, além de contar com a colaboração de professores e de alunos das áreas citadas.

A maior referência em pesquisa na área de história oral utilizada é o Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) da UEL. Porém, grande parte do acervo encontrada envolve apenas os pioneiros, com poucas contribuições no campo religioso. “É urgente buscar constituir esses arquivos históricos a partir dos depoimentos, das entrevistas. Temos uma exigência e uma necessidade que envolve tanto a historiografia como a sociologia que é fazer essas entrevistas e procurar prepará-las e disponibilizá-las para o CDPH”, antes que essas memórias sejam perdidas,
alerta o professor.

Com menos de um ano de implantação, o projeto ainda está no começo das pesquisas e entrevistas. “Inicialmente, o nosso foco é privilegiar as fontes, os depoimentos dos possíveis entrevistados que vivenciaram o período da ditadura militar”, conta Lanza e complementa que futuramente pode abranger a atual situação das relações políticas da arquidiocese. Apesar do pouco tempo, o projeto já conta com, em média, dez entrevistas realizadas pelos alunos das
matérias envolvidas e com o desenvolvimento do mesmo, outras ainda serão feitas. Elas podem não possuir um conteúdo muito aprofundado, mas “são referências que não existiam e que vão ser todas doadas para o CDPH”, finaliza o orientador.

Ano 7 – Edição 87 -18/04/2010


Cascas de frutas modificadas podem diminuir poluição por metais pesados

outubro 11, 2009

Projeto de mestrado em química melhora características de cascas de frutas para que possam servir como adsorventes naturais, adquirindo uma utilidade ambiental

Professor Alfaya

Pauta: Ana Carolina Contato
Repórter: Juliana Mastelini
Edição: Beatriz Assumpção e Fernanda Cavassana

O trabalho intitulado “Estudo e Desenvolvimento de Biossorventes para Metais Pesados” examina as propriedades de frutas para a adsorção dos metais cobre, cádmio e chumbo em soluções aquosas. Metais pesados são aqueles que apresentam efeitos adversos à saúde humana e o processo de adsorção é a utilização de um sólido para reter substâncias diluídas em água. O trabalho é desenvolvido pela bióloga mestranda do programa desenvolvido pelo Departamento de Química e professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Talita Caretta. Seu orientador no projeto é o professor Antônio Alfaya, graduado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A entrevista foi realizada com o professor Antônio Alfaya.

“O trabalho segue uma tendência mundial de busca de adsorventes naturais, ou biossorventes”, assegura Antônio Alfaya. Segundo o professor, trabalha-se com materiais baratos e que geralmente são descartados, dando um valor agregado para que possam resolver um problema ambiental: a contaminação das águas por metais pesados. “A pesquisa melhora características das cascas das frutas para que possam servir como adsorventes”, completa. Segundo ele, o objetivo do projeto é transformar as cascas em uma farinha que concentre os poluentes de grandes volumes em pequenas quantidades de água. Assim, diminui-se o volume da poluição, podendo fazer o tratamento de forma mais eficiente. “O tratamento de concentrações de metais pesados diluídas em grandes volumes é muito caro”, afirma.

Segundo Alfaya, “as indústrias geram esses poluentes, mas devido ao preço e por não se sentirem fiscalizadas, não usam adsorventes e descartam de forma irregular os materiais sem fazer o tratamento adequado. Hoje temos bons adsorventes sintéticos, mas são muito caros”.

O projeto, afirma o professor, pretende desenvolver um adsorvente de metais pesados com custo reduzido para que os industriais se interessem pela utilização do produto e não lancem os poluentes no meio ambiente. “O primeiro objetivo da pesquisa é ambiental, pois os adsorventes contribuem para diminuir a poluição, e tecnológico porque busca que a indústria implante o método sem resistência”, completa.

“No projeto, trabalhamos com três tipos de metais pesados que são os materiais mais comuns na nossa região por causa das empresas de baterias, o cobre, o cádmio e o chumbo”, conta Alfaya. Segundo o professor, os metais pesados acarretam riscos específicos nos seres vivos e os mais perigosos são o chumbo, o cádmio e o mercúrio. “O chumbo, por exemplo, acarreta problemas no sistema nervoso”, afirma o professor.

Talita Caretta participa da linha de pesquisa de desenvolvimento de novos materiais para aplicações ambientais e/ou tecnológicas do Grupo  de Estudo de Novos Materiais (GENM) da UEL, CNPq e Departamento de Química. Segundo Alfaya, como bióloga, o primeiro passo da mestranda foi levantar dados sobre as cascas de frutas que sobram das indústrias e quais seriam as mais interessantes para a linha de pesquisa escolhida. A partir das informações, o projeto foi elaborado e os estudos prosseguem com os materiais mais promissores na adsorção de metais pesados. “As expectativas são boas e os resultados preliminares são melhores do que o esperado”, afirma.

De acordo com o professor, o projeto será publicado em revista científica como critério do programa de pós-graduação. Junto com a mestranda Talita Caretta e o professor-orientador Antônio Alfaya, a aluna do segundo ano de Química da UEL, Camila Inagaki, trabalha no projeto como bolsista do Programa de Iniciação Científica (ProIC) do CNPq. A bolsa ProIC é um programa de apoio ao desenvolvimento da iniciação científica.


Projeto estuda a violência no cotidiano das escolas sob uma nova perspectiva

maio 25, 2009

Observando a crescente incidência da violência nas escolas, pesquisadora da UEL se atentou para os problemas das escolas públicas de periferia

Materia BETO - SITE

Pauta: Lígia Zampar
Reportagem: Beto Carlomagno
Edição: Vitor Oshiro

Escola sempre foi sinônimo de aprendizado e um meio para a evolução como ser humano, mas, atualmente, uma das principais preocupações da sociedade, a violência, tem manchado essa reputação. Hoje em dia, nas salas de aulas e nos pátios são encontrados todos os tipos de violência comuns a sociedade contemporânea, vai desde o desrespeito de um aluno para com seu professor até furtos e tráfico. A assistente social e professora da UEL, Andréa Pires Rocha, graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), desenvolveu o projeto Violência que atinge o cotidiano de escolas das periferias de Londrina. O projeto irá analisar casos violentos em escolas da periferia de Londrina, estudando o ensino fundamental, de quinta a oitava série, e o ensino médio.

Conexão Ciência: No que consiste o projeto basicamente?
Andréa Pires Rocha: A idéia do projeto é observar os tipos de violência que se materializam na escola e que perpassam aquela notícia de jornal. Porque eu entendo lendo sobre o assunto, que aquilo é o ápice crítico de vários tipos de violência presentes na escola e que fazem com que a escola se torne um palco de conflito. É uma perspectiva diferente de entender a violência escolar, até porque a violência não é escolar. Ela acontece na escola, mas é decorrente de vários outros tipos de violência, como a violência policial sofrida na porta da escola e o desemprego. Além do próprio professor estar submetido à violência, com as políticas educacionais. Várias questões da violência estrutural interagem e fazem com que, na escola, a violência se materialize de diversas maneiras.

Conexão Ciência: Como surgiu a idéia para o projeto?
Andréa Pires Rocha: No início de 2007, apareceram alguns desses fenômenos na mídia. Algumas questões bem graves. E eu comecei a observar essa questão da violência nas escolas aqui em Londrina. Entre 2007 e 2008, fiquei observando e surgiu um assunto polêmico que é a patrulha escolar, que é a polícia dentro da escola revistando os estudantes como uma forma de minimizar a violência. Então, comecei a ler sobre o assunto e, acompanhando matérias sobre a violência nas escolas, pensei nessa outra discussão: discutir também essa violência que os adolescentes e professores estão submetidos, que não é só essa chamada de agressão física.

Conexão Ciência: Quais são as ações violentas mais comuns nesse ambiente?
Andréa Pires Rocha: Nas leituras preparatórias, observamos que a agressão que faz parte das chamadas, pelo conceito da teorização da violência, violências intersubjetivas aparecem bastante. Elas acontecem entre pessoas conhecidas e entre grupos, como gangues por exemplo. Há também a violência do educador para com o aluno. Outras pesquisas avançam no mesmo aspecto encontrado na minha pesquisa. Nelas, a violência doméstica e a falta de investimento nas políticas educacionais são as causas para que as escolas tenham se tornado palco de violência.

Conexão Ciência: Qual a metodologia utilizada no projeto?
Andréa Pires Rocha: A metodologia do trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, desenvolvida ano passado, para preparar os estudantes participantes do projeto para poderem chegar nas escolas e conversar. Agora, estamos com pesquisa de campo por meio de formulários fechados e depois com entrevistas abertas nas escolas com maior número de casos de violência. Pretendemos escolher três escolas dessas e conversar com todos os envolvidos: professores, pedagogos e estudantes. Utilizaremos, nesta parte final, uma abordagem grupal. Ao fim faremos uma análise qualitativa.

Conexão Ciência: Qual o número de escolas estudadas?
Andréa Pires Rocha: Entre 30 e 35 escolas. Todas escolas públicas, estaduais, e só da periferia. Escolas centrais não entraram na pesquisa porque paralelamente à pesquisa estamos tentando conhecer o que há para o jovem da periferia de Londrina. Queremos saber quais as políticas que podem fazer, de uma forma ou outra, que o adolescente canalize as energias em outras atividades. Porque a violência é também resultado de uma negação de direitos, o que não tira a responsabilização do adolescente por seus atos. Não naturalizamos a atitude violenta do adolescente, mas pretendemos refletir mais profundamente o porquê daquilo.

Conexão Ciência: As escolas possuem uma participação ativa no projeto?
Andréa Pires Rocha: Existe uma dificuldade inicial, porque quando os estudantes participantes do projeto ligam para as escolas para marcar, algumas instituições tem uma dificuldade para aceitar a visita, há uma certa resistência. Na bibliografia que li para o projeto, vi que normalmente a escola é culpabilizada e acredito que seja esse o medo deles. Mas, depois que conseguimos chegar à escola e mostramos o projeto, eles percebem que a intenção do nosso projeto é o contrário: não culpabilizar a escola, e sim mostrar que a escola e a juventude merecem ser olhadas com mais atenção. A partir disso eles aceitam mais facilmente.

Conexão Ciência: Qual deve ser a reação de um educador diante de um ato violento?
Andréa Pires Rocha: Temos que tentar entender a diferença entre um problema de comportamento de um adolescente e um ato infracional, que é a ação de um adolescente que pode ser comparada a um crime. Muitas vezes, o professor se depara com uma questão de comportamento, um xingamento, por exemplo, e chamam o conselho tutelar e a polícia, para resolver questões de comportamento, o que deveria ser resolvido na própria escola. Agora, em uma situação que pode ser enquadrada dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como ato infracional, a escola tem que proceder como deve, dependendo da gravidade até com um boletim de ocorrêcia. Mas, eu não defendo nunca polícia dentro da escola.

Conexão Ciência: Mas, não seria culpa da própria escola e dos estudantes ela ter que recorrer à polícia como uma maneira de reprimir e controlar essa violência?
Andréa Pires Rocha: Vejo, e ainda estou vendo, que a escola quer a intervenção policial. Por escola digo, professores e diretores. Em alguns encontros pude notar isso. A reflexão que se deve fazer com essa informação é “Por que que a escola quer a intervenção policial?”. É porque se sente impotente diante de tanta violência. Não dá pra dizer de quem é a culpa, mas também não dá pra acreditar que a intervenção policial vá resolver. É certo que vai reprimir. Tendo um policial na escola, os adolescentes terão mais receio de ter uma atitude mais violenta, mas isso não quer dizer que resolveu. Eles podem sair da escola e promover a violência fora dela. Então, a violência é um fenômeno muito complexo. A escola deveria ser um lugar para discutir e fazer com que canalizem essa violência. Eu não culpo os professores e diretores por acreditarem que a única saída é a polícia. Eles estão submetidos a muita pressão.

Conexão Ciência: Qual a previsão para o término do projeto?
Andréa Pires Rocha: Pretendo até agosto ou setembro fechar essa parte quantitativa, de identificação da violência, para, a partir de setembro, iniciar a outra parte, de conversa mais próxima, com três escolas. Essa parte deve ir até o fim do ano, para poder começar a produzir sobre o assunto, já que o projeto se encerra em abril de 2010.

Conexão Ciência: Quais são os resultados esperados?
Andréa Pires Rocha: Primeiro, na identificação da violência, que é o objeto central, não esperamos muitas novidades no que vai aparecer, já que existem muitas pesquisas sobre o assunto e Londrina não está fora desse universo geral do país. Todavia, o que esperamos com o levantamento dessas informações e com a comprovação de que Londrina está dentro do contexto geral de escola pública no Brasil é criar um debate sobre o assunto e trazê-lo para a UEL, envolver outros departamentos, levar os Conselhos – o de Educação e o de Direito da Criança e do Adolescente – a pensar estratégias, possibilidades, que não dependam muito do protagonista, para uma melhora. Além de lutar por políticas públicas voltadas para o jovem, eles precisam de lazer e cultura.


Pesquisadora desenvolve estudo de gerenciamento do trânsito de Londrina

maio 25, 2009

A falta de sincronia dos semáforos seria uma das causas das filas de congestionamento na cidade

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Pauta: Lígia Zampar
Reportagem: Tatiane Hirata
Edição: Vitor Oshiro

Atualmente, Londrina conta com mais de 500 mil habitantes e um dos principais setores afetados por esse grande contingente populacional é o trânsito. Pode-se dizer que ele se encontra mais problemático principalmente nos horários de pico, entre às 07h00 e 08h00 e entre às 17h00 e 19h00. Para se ter uma idéia, segundo dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), entre abril de 2008 e abril de 2009, a frota de veículos da cidade aumentou de 239.328 para 255.557. São 16.229 veículos a mais no intervalo de um ano, sem contar os veículos das cidades vizinhas que transitam em Londrina.
Para o condutor londrinense, isso representa perda de tempo em filas de congestionamento, um trânsito perigosamente complicado e muito mais estresse no final do dia. Paulo Corso, que dirige há 15 anos, afirma que é difícil manobrar e estacionar no trânsito de Londrina, porque o “motorista é obrigado a ficar costurando entre os carros”. Para ele, uma das causas do problema é a falta de sincronia dos semáforos, um dos fatores que provoca a criação de filas.
Embora não seja a única causa, a falta de sincronia dos semáforos é um dos maiores agravantes na problemática do trânsito. Pelo menos é isso que afirma a engenheira Silvia Galvão de Souza Cervantes, doutora em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo ela, em Londrina, dos 70 semáforos localizados na malha central, cerca de apenas 10 são elétricos. Os outros todos ainda são eletromecânicos, controlados pelo homem. Eles possuem uma temporização que se mantém constante, baseada em estudo empírico que não atende às necessidades do trânsito do centro de Londrina.
Silvia Cervantes coordena um grupo de pesquisa da Universidade Estadual de Londrina que desenvolve trabalhos de gerenciamento do tráfego de Londrina. A pesquisa é uma continuidade do trabalho de doutorado da engenheira. Ao voltar para Londrina, em 2005, depois de estudar quatro anos em Santa Catarina, a engenheira quis aplicar o estudo na cidade. Procurou a prefeitura e entrou em contato com membros do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL), em busca de um convênio para o projeto. “Nós começamos em uma parceria”, conta Silvia, “eles me forneceram dados do funcionamento da malha viária central de Londrina, que é uma das mais problemáticas, e a contagem de veículos, que normalmente é uma informação difícil de obter das prefeituras. Nesse caso, porém, ela foi extremamente participativa, porque também tinha interesse no trabalho”.
A princípio, o trabalho consistia na instalação de sensores magnéticos nos semáforos da malha viária central da cidade. Esses sensores são compostos por um software que faz a contagem dos veículos, que depois pode ser transferida para o computador. Com os dados, desenvolve-se um algoritmo em tempo real a partir do qual se desenvolve um cálculo do melhor tempo de verde para diminuir o tamanho das filas e, conseqüentemente, o atraso. Com isso, obtém-se uma coordenação dos semáforos, a chamada “onda verde”, nome pelo qual se denomina o projeto no site do IPPUL (http://www.londrina.pr.gov.br/ippul/transito/projeto_ondaverde.php).
Entretanto, isso se tornou inviável. “Seria difícil aplicar aqui em Londrina, porque o tempo real envolve um custo maior de implantação. Teria que ter detectores em todas as vias e controladores semafóricos eletrônicos, coisa que não existe muito aqui. Há alguns na Higienópolis, na JK, na Tiradentes e na Maringá, mas no restante, é tudo eletromecânico ainda. São super antigos, não recebem uma programação eletrônica. Então, teria que trocar todos os controladores semafóricos”, afirma a pesquisadora. Além disso, Silvia Cervantes explica que os sensores magnéticos inicialmente aplicados são produzidos fora do país e são difíceis de serem importados.
Com isso, o grupo de pesquisa partiu para o desenvolvimento de um algoritmo em tempo fixo. “Conhecemos a quantidade de veículos que estão circulando na malha e, com essa quantidade, faço um plano de tempo semafórico. Então, calculamos esses tempos semafóricos em tempo fixo e aplicamos esses tempos semafóricos de tal forma a minimizar as filas. Por fim, aplicamos algoritmos de otimização”, diz a engenheira. O sensor utilizado para a contagem de veículos passou a ser um móvel, que funciona através de laços indutivos, que são dispositivos capazes de detectar a passagem de uma massa metálica por um campo indutivo.
Com o atual equipamento semafórico de Londrina, a temporização colocada é fixa. Para mudá-la, um funcionário responsável faz isso manualmente. A pesquisadora diz que o ideal seria ter um tempo de verde e vermelho para cada horário do dia, variando em dias da semana, feriados e finais de semana, de acordo com o movimento de veículos. “Também precisaria de controladores melhores, que recebessem essa programação”, afirma.
Como exemplo, a pesquisadora cita um dos trechos mais problemáticos da malha viária central de Londrina: o cruzamento das ruas Goiás e Duque de Caxias. Conforme dados obtidos pela pesquisa no primeiro semestre de 2008, a capacidade do semáforo (o número suportável de veículos que chega das duas vias, medido de acordo com a largura e tamanho da via) nesse cruzamento é de 1800 veículos por hora, em cada via. Como são duas vias, a capacidade total é de 3.600 veículos. Nos horários de pico, o grupo de pesquisa colheu dados de 2.700 veículos cruzando as duas vias, um número menor do que a capacidade. Teoricamente, portanto, não haveria filas, mas elas existem. Para a pesquisadora, isso se deve ao tempo errado de verde e vermelho utilizado no semáforo da via. O objetivo da pesquisa é desenvolver cálculos de tempo de verde que minimizem problemas como esse.
Atualmente, para vencer a falta de investimentos, o projeto tenta estabelecer um convênio com a atual administração de Londrina. A pesquisadora afirma que isso seria bastante importante para “realizar alguns testes que faltam e para comprar um simulador que revalidaria os resultados obtidos”.
A professora Silvia cervantes afirma ainda que em nenhuma cidade só o gerenciamento semafórico resolve, mas Londrina tem esse problema e precisa ser resolvido. Mesmo que o convênio não saia e não seja possível aplicar os resultados da pesquisa em Londrina, o estudo continuará. “Se não for aplicado aqui, será aplicado em outro lugar”.