Edição 129

setembro 27, 2011

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Doutora investiga criminalidade no município

setembro 27, 2011

Projeto do departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina prevê um mapeamento da violência urbana na cidade

Edição: Paola Moraes
Pauta: Claudia Hirafuji
Reportagem: Bruna Madeira 

A inserção de uma cidade na rede de atividades ilícitas, em especial o tráfico de drogas, é uma referência importante no estudo da criminalidade. Partindo desse conceito, a professora doutora de Geografia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Márcia Siqueira de Carvalho, graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em  Desenvolvimento Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), iniciou um projeto intitulado “Geografia da violência urbana em Londrina” cujo principal objetivo é zonear as áreas de maior incidência de furtos, assaltos, acidentes de trânsito e outros delitos, para a partir disto estudar a dinâmica dessa violência, sabendo onde ela ocorre e o tipo dela. O Conexão Ciência conversou com a professora doutora e explica nesta edição os pontos principais desse estudo.

Conexão Ciência: Há quanto tempo foi iniciado o projeto?
Prof. Dr. Márcia Siqueira Carvalho: Na verdade estamos com dois projetos em paralelo a este que apresentam duas escalas de estudo. O primeiro visa os principais municípios da região metropolitana de Londrina, é um projeto que estuda a dinâmica industrial e a dinâmica de bens e serviços, entrando nesse aspecto do aumento da violência urbana, que é uma característica das regiões metropolitanas. O outro visa a própria cidade mais especificamente, por ser a que mais concentra acidentes de trânsito, furtos, etc… Londrina passou a ser o foco principal da nossa pesquisa, que foi iniciada em 2009 e deve terminar no final de 2012.

Conexão Ciência: Quais são os resultados esperados?
Prof. Dr. Márcia Siqueira Carvalho: O projeto tem como objetivo principal um mapeamento do tipo de violência e onde ela ocorre, por que hoje temos uma imagem muito distorcida que não corresponde ao cenário real da cidade toda. Esperamos que o projeto desmistifique a ideia de que determinado bairro ou determinado local é extremamente violento.

Conexão Ciência: O estudo busca entender, principalmente, a criminalidade ou qualquer tipo de ação que gere a violência?
Prof. Dr. Márcia Siqueira Carvalho: O trabalho com criminalidade é difícil porque precisamos analisar boletins de ocorrência, e muitas vezes as coisas que acontecem não são notificadas. A originalidade do nosso trabalho é analisar os dados do Sistema Integrado de Atendimento de Trauma e Emergência (SIATE), que é solicitado quando existem acidentes de trânsito ou agressões.

Conexão Ciência: Quais as principais causas da violência urbana?
Prof. Dr. Márcia Siqueira Carvalho: Trata-se de um conjunto de fatores e estruturas sociais que a facilitam e a provocam, além de causarem a potencialização do problema. Por exemplo, o maior número de armas ilegais que não são recolhidas pela policia contribuem terrivelmente para o aumento do número de mortes. Outra coisa que aparentemente parece não influenciar, são os receptores de mercadorias roubadas, que garantem aos assaltantes a compra desses produtos, ou seja, acabam influenciando o comportamento do roubo. A falta de fiscalização e a corrupção possibilitam uma atmosfera propícia à propagação da criminalidade.

Conexão Ciência: Qual o papel da educação nesse sentido?
Prof. Dr. Márcia Siqueira Carvalho: Acredito que as campanhas educativas devem ser feitas como uma forma de promoção e acesso a um emprego e a melhores oportunidades. A educação tem um limite para evitar a violência, mas ela por si só não a impede em sua totalidade, pois as atividades ilícitas são lucrativas. Quando os criminosos encontram empregos que os remuneram melhor ou igual a que vender drogas, por exemplo, eles obviamente se transferem da esfera ilícita para a legal. Não podemos nos esquecer que são pessoas com vontades e escolhas.


O cuidado perioperatório sob o olhar de cada um dos envolvidos

setembro 27, 2011
Pesquisa do departamento de Enfermagem da UEL mostra como o cuidado no período cirúrgico ocorre no HU sob a visão do paciente, dos seus familiares, equipe cirúrgica e alunos
Edição: Paola Moraes
Pauta: Cláudia Hirafuji
Reportagem: Vanessa Tolentino
“Compreender o significado do cuidado perioperatório no Hospital Universitário (HU) sob diferentes olhares”, é esse o objetivo do projeto de pesquisa “O cuidado perioperatório – o significado para o paciente, familiares, equipe de saúde e alunos” coordenado pela professora Dra. Mara Lucia Garanhani, graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP.  Segundo a coordenadora, o cuidado perioperatório acontece a partir do momento do diagnóstico da necessidade de cirurgia até a recuperação do paciente cirúrgico.

A pesquisa é feita por meio de entrevistas com todos os envolvidos no processo cirúrgico: o paciente, os seus familiares, a equipe e os alunos do HU. “É uma pesquisa qualitativa para buscar na percepção dos trabalhadores, dos pacientes e dos familiares como o cuidado está sendo executado”, explica a professora doutora. Em relação à importância da pesquisa, Mara Lucia Garanhanhi entende que um hospital, principalmente o HU, por ser um hospital escola, deve estar sempre se aprimorando. “Com uma pesquisa como essa, temos o retorno de como o paciente está se sentindo cuidado, e como que os familiares e equipe estão se sentindo”, esclarece. Isso, segundo a ,professora doutora possibilita que no fim da pesquisa os problemas detectados sejam discutidos com a equipe do hospital e a partir disso, a busca pelo aprimoramento no atendimento ao paciente seja realizada.

Os resultados preliminares chamaram a atenção da coordenadora. “O paciente, de uma maneira geral, se sente bem cuidado. Ao mesmo tempo, há um sentimento de gratidão e muitas vezes, uma falta de senso mais crítico em relação aos seus direitos”, garante. A pesquisadora também explica que, como o projeto foi realizado em diversas clínicas cirúrgicas do HU, em algumas há uma maior análise crítica vinda dos pacientes. Nesses pontos, as pessoas em tratamento apontam aquilo que se deve melhorar. Em relação aos familiares, os resultados são bons. “Com os familiares, o retorno é positivo. A dificuldade é que eles gostariam de permanecer mais tempo com o paciente e com maior conforto, porém, essa é uma dificuldade estrutural e os próprios familiares compreendem isso”, afirma Mara Lucia Garanhani.

Com a equipe, percebe-se a dificuldade do profissional de saúde. “Na enfermagem, os profissionais gostariam de dar uma maior atenção aos pacientes, porém não conseguem, pois cada enfermeiro possui um grande número de pacientes para cuidar”. Outro resultado é a falta de cuidado do profissional de saúde com si próprio. “Quando se pergunta ao profissional como ele próprio se cuida, a resposta é que ele não tem tempo. Alguns residentes responderam que na hora de lazer eles vão estudar. Então, a hora do descanso é o momento que ele aproveita para estudar”, exemplifica  a coordenadora.

O projeto de pesquisa completa três anos e deve ser finalizado neste ano. Por isso, já possui algumas publicações. “Há três artigos publicados, dois sobre crianças e um sobre o residente de anestesiologia. No momento têm vários artigos que os alunos produziram e foram encaminhados para revistas e alguns em fase de análise”, finaliza a pesquisadora.

Crédito da foto: Deborah Vacari


VII Seminário de Economia Solidária é realizado na UEL

setembro 27, 2011

Evento conta com ampla discussão sobre o sistema organizacional da economia solidária

Edição: Karina Constancio
Pauta: Claudia Hirafuji
Reportagem: Fiama Heloisa

O VII Seminário de Economia Solidária, realizado nos dias 22 e 23 de setembro na Universidade Estadual de Londrina (UEL), foi organizado pela Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (Intes). O professor do Departamento de Economia da UEL, Sinival Osório Pitaguarí, é um dos organizadores do evento que teve como tema central este ano “A Sustentabilidade da Economia Solidária”. Sinival Osório Pitaguarí possui graduação e mestrado em Economia pela UEL.

Segundo o professor, o objetivo do Seminário foi refletir sobre o desenvolvimento da economia solidária, seus mecanismos de disseminação e as maneiras de aperfeiçoar o projeto. “O tema deste ano visa discutir quais as condições necessárias para que os empreendimentos da economia solidária possam desenvolver-se por completo e gerar renda efetiva para seus trabalhadores”, explica.

          Conferências, seminários e mesas-redondas fizeram parte da programação. A palestra da manhã de quinta-feira foi com Ademar Bertucci, representante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária e Cáritas Brasileira. Já à tarde, o evento contou com a presença do economista Paul Singer, que é Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Paul Singer é considerado um dos principais pesquisadores da economia solidária no Brasil. Ele é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e autor de vários estudos e livros sobre organização do trabalho e economia.

De acordo com organização do evento, o encontro deste ano foi fruto de uma parceria entre a UEL, a prefeitura e a Cáritas*, que juntos buscaram realizar um Seminário de maior qualidade e importância para a região. É por isto que este evento foi realizado junto com o VI Seminário do Programa Municipal de Economia Solidária, o I Seminário de Economia Solidária da Cáritas Arquidiocesana de Londrina e o I Fórum Regional de Economia Solidária. “Estamos com altas expectativas para o Seminário, queremos contar com uma grande presença de professores, de estudantes e da comunidade externa”, entusiasmavasse o professor Sinival Osório Pitaguarí.

* A Cáritas Brasileira faz parte da Rede Cáritas Internationalis, presente em 165 países e territórios. Reconhecida como entidade de utilidade pública federal, tem como objetivo a promoção e atuação social na defesa dos direitos humanos.



Edição 128

setembro 20, 2011

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Papel da mídia na sustentabilidade é tema de palestra na Semana Municipal de Paz

setembro 19, 2011

O jornalista da Globonews, André Trigueiro, acredita na “interatividade” dos meios de comunicação com a população para conscientizar sobre o bom uso dos recursos naturais e a preservação da vida

O jornalista André Trigueiro abre a "Semana da Paz" em Londrina

Edição: Karina Constancio
Pauta: Beto Carlomagno
Reportagem: Leonardo Caruso

“O uso consciente dos meios de comunicação para a manutenção de um mundo sustentável é um dos principais papéis dos comunicadores na sociedade”, é o que diz André Trigueiro, autor de um blog* sobre o assunto, editor-chefe do programa “Cidades e Soluções” e apresentador do “Jornal das Dez”, ambos do canal Globonews.

O assunto foi abordado em palestra da 11ª Semana de Paz de Londrina. Com o tema “Mídia de Paz: A contribuição da imprensa na construção de um mundo sustentável”, o jornalista chamou atenção para três grandes tópicos a serem observados por aqueles que desempenham o papel de informar: o ecocídio, o suicídio e o uso das ferramentas midiáticas.

Para André Trigueiro, em primeiro lugar devemos atentar à questão da escassez de alimentos e bens necessários para a sobrevivência. Tomando como exemplo a tragédia causada pelo furacão Katrina em Nova Orleans, nos Estados Unidos, ele explicou o conceito de ecocídio: “após a tragédia, as pessoas tiveram que esperar em um abrigo até poderem voltar a suas casas. Só que essa liberação demorou mais tempo que o previsto. O que no início era solidariedade transformou-se em disputa, violência e até mesmo em suicídio”.

O segundo ponto a se prestar atenção é o suicídio. “É normal o aumento de casos entre pessoas mais velhas, mas o número tem aumentado entre jovens. Um suicídio traumatiza cerca de sete pessoas do convívio do suicida”, releva o jornalista.

O terceiro tópico abordado – e a intersecção entre os elementos anteriores como ferramenta de combate a destruição coletiva e a auto-destruição – é o uso consciente dos meios de comunicação. “Causamos problemas decorrentes do mau uso das ferramentas midiáticas. Devemos ter consciência crítica e não deixar a pressa se tornar uma desculpa para ultrapassar os limites éticos que norteiam o trabalho”, afirma. André Trigueiro acredita que a comunicação é convincente e tem credibilidade diante da população e deve, portanto, prezar pela informação que ensina, ao invés do sensacionalismo. “Temos que noticiar as coisas ruins, mas sem sensacionalizar. Devemos noticiar as tragédias, mas também conscientizar as pessoas. A educação é inversamente proporcional à violência. Quanto maior for a educação das pessoas, menor o índice de violência”, explica.

O jornalista também conversou com estudantes de jornalismo e apresentou alguns conceitos que permeiam seu trabalho, dentre eles a questão da construção civil, que deveria ser melhor explorada já que é o ponto de partida da sustentabilidade. “As construções deveriam ser preparadas para tratar água e captar energia por formas alternativas, como a solar”, explica.

Para André Trigueiro, a definição de sustentabilidade deve ser revista e usada com parcimónia. “Não existem carros ou empresas sustentáveis, mas existe a utilização consciente e sustentável dos recursos. Sustentabilidade é respeitar os limites de uso de um determinado bem”, acrescenta. Para ele, uma ação é sustentável a partir do momento que os benefícios são equalizados com os impactos que causa.

Para encerrar a conversa, foi abordada a necessidade de se formar jornalistas que conhecem a “questão ambiental”, uma vez que todas as áreas profissionais exigem conhecimento da realidade ecológica. “O jornalista é um analfabeto se não sabe o que é urgente ou importante no mundo. E a questão da sustentabilidade está presente na política, na economia, na saúde, na ciência e tecnologia”, complementa.

A palestra fez parte da 11a. Semana de Paz de Londrina, organizado pelo Conselho Municipal de Cultura de Paz de Londrina (COMPAZ), que vai até o dia 25/09 e tem como objetivo discutir ações para um convívio sustentável e pacífico das pessoas. Mais informações podem ser encontradas no site http://www.londrinapazeando.org.br.

*http://www.mundosustentavel.com.br/

Crédito da foto: Reprodução


Projeto devolve valor histórico para revistas dos anos 50 e 60

setembro 19, 2011

Revista Capricho e Grande Hotel retrataram a vida e os costumes da sociedade brasileira

Segundo Prof. Dr. André Luiz Joanilho, a ideia do projeto é estudar um material cultural que a historiografia tradicional esqueceu

Edição: Karina Constancio
Pauta: Ana Karla Teixeira
Reportagem: Beatriz Botelho

“Um fenômeno cultural que foi completamente apagado da memória”, é assim que o professor André Luiz Joanilho do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina define as revistas que utiliza como objeto de estudo no projeto “No mundo das sombras literárias: práticas de leituras femininas no Brasil dos anos 50 e 60”. Graduado em História pela Universidade de Campinas e com mestrado pela mesma universidade, doutor em História Social pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e com dois pós-doutorados, um em Antropologia pela Université Lumieré Lyon 2 e o outro em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris, o coordenador, juntamente com a professora Mariângela Peccioli Galli Joanilho* analisa revistas voltadas para o público feminino que foram sucesso nas décadas de 50 e 60, principalmente, a revista Capricho e a Grande Hotel.

“Essas revistas tiveram milhões de leitores, algo que hoje não existe no mercado editorial em termos de produção gráfica. A Capricho chegou a 500 mil exemplares mensais, mas ela foi esquecida,” conta André Luiz Joanilho. Mesmo sendo fontes esquecidas, o professor conhecia as revistas devido à sua mãe que as lia. Ele encontrou 1500 revistas num sebo de Londrina, com número mais expressivo da revista Capricho e da Grande Hotel e também outras revistas como a Sétimo Céu, Ilusão, Almanaque Fotonovela, e elas passaram a ser estudadas.

Segundo André Luiz Joanilho, a ideia do projeto é estudar um material cultural que a historiografia tradicional esqueceu. “Na história há determinadas fontes que são ‘boas’ e outras que não são, por isso são esquecidas. A ideia de pesquisar um fonte documental que foi esquecida é para justamente colocar em xeque essa percepção de fontes ‘boas’ e fontes ‘ruins’ e mostrar que tudo é história,” afirma o coordenador do projeto.
Para o professor doutor, determinadas fontes que são desprezadas pelos historiadores e pesquisadores, pois estes gostam de documentos oficiais, podem ser interessantes para revelar aspectos de uma época e de um grupo social. No caso, as duas revistas analisadas “são fontes preciosas para tentar perceber o que as pessoas pensavam sobre a vida, o amor, a moda, o comportamento e as boas maneiras”, afirma.

O foco do projeto na análise dessas revistas são as fotonovelas. Segundo André Luiz Joanilho, este estilo de literatura tem origem italiana e são storyboard** de filmes. “São histórias bem simples. Eles faziam o desenho do filme e publicavam. Posteriormente, este gênero teve certo sucesso e começaram a publicar histórias desenhadas. Depois fotografaram atores com os diálogos e o narrador em off,” conta o professor. De acordo com ele, na disciplina de História, essas telenovelas são chamadas de representações que mostram a percepção de moral, de identidade e da maneira de interpretação do mundo das pessoas daquela época.

Essas fotonovelas mostram, segundo o professor doutor, a realidade da época: uma sociedade de baixa e média renda, que mora na cidade e que sofre as transformações urbanas do país causadas pelo processo intenso de industrialização. “As pessoas tem expectativa de ordem, de lugares, de certo e errado, de moral, porque o mundo em que elas vivem está em transformação. Então, essas revistas trazem, de certa maneira, um conforto para elas”, explica André Joanilho.

Os dados que o ele já coletou com o projeto, que se iniciou em 2009 e que se encerra do fim deste ano, mostram como os leitores recebiam as informações dos periódicos. “A leitura, não só do meu ponto de vista, mas dos autores que eu utilizo como Michael de Cherteau e Roger Chartier, nunca é passiva. O leitor interpreta e isso reflete no material. Há uma reciprocidade, não é um material imposto. Ele deve funcionar de acordo com os desejos e expectativas dos leitores. É uma tentativa da indústria cultural em atingir o que o público deseja, por isso não há passividade, justamente porque os leitores atuam.”

A pesquisa está em fase de conclusão. A parte da discussão teórica já está feita e publicada na Revista Brasileira de História. Falta uma parte da pesquisa que o pesquisador ainda não concluiu, que são entrevistas com leitoras dessas revistas. Mesmo com o encerramento do projeto no fim no ano, o coordenador pretende continuar as pesquisas para depois publicar um livro. O trabalho deverá comportar a discussão teórica a respeito da documentação, da teoria da história e uma análise do Brasil desse período através desse universo feminino, e terá como conclusão as entrevistas com as leitoras.

As 1500 revistas usadas pelo professor doutor André Luiz Joanilho serão limpas e catalogadas, depois digitalizadas e estarão disponíveis online no site do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) da UEL. Será o primeiro lugar do Brasil com esses materiais arquivados, pois nem bibliotecas e nem mesmo a Capricho tem uma arquivo organizado dessas revistas.

* Graduada em Letras e Ciências Humanas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e em Pedagogia pela Faculdade de Educação Antonio Augusto Reis Neves, com mestrado e doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado pela Ecole Normale Supériéure Lettres et Sciences Humaines de Lyon.
**Os Storyboard são organizadores gráficos com uma série de ilustrações ou imagens arranjadas em sequência com o propósito de pré-visualizar um filme, animação ou gráfico animado.

Crédito da foto: Beatriz Botelho


Campanha solidária busca despertar a cidadania em crianças e adultos

setembro 19, 2011

Projeto “Sou Criança, Sou Cidadão” tem como objetivo promover o sentimento de solidariedade em crianças

Alunos dos CEIs em apresentação no Restaurante Universitário

Edição: Karina Constancio
Pauta: Cláudia Yukari Hirafuji
Reportagem: Flávia Cheganças

“A grande finalidade é despertar tanto nos alunos, como nas famílias e principalmente para os estudantes da universidade, que a questão de cidadania se inicia na infância. O projeto é realizado para que as crianças percebam que o sentimento de solidariedade tem que ser construído ao longo do tempo através de suas ações.” diz a professora doutora Adriana Regina de Jesus. Ela é graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

De acordo com a professora doutora a campanha “Sou Criança, Sou cidadão” tem como proposta arrecadar roupas infantis e brinquedos em bom estado, que serão doados para instituições sociais da cidade. Ela é organizada pelos Centros de Educação Infantil (CEI) em parceria com o Campus da Universidade de Londrina e Hospital Universitário e teve seu lançamento realizado no dia 2 de setembro, na praça do Restaurante Universitário (RU) da UEL. Alunos dos CEIs fizeram uma apresentação musical e teatral em conjunto com o departamento de música da UEL.

O projeto tem o apoio dos pais dos alunos dos CEIs e está convocando a comunidade que se sentir sensibilizada. Segundo dados fornecidos pela organização da campanha, no ano de 2010 foram arrecadadas mais de 1000 caixas de leite, esse ano o objetivo é arrecadar no mínimo 200 brinquedos e 200 trocas de roupas, que é a quantidade de estudantes do CEI. Mas organizadores do evento esperam que esse número seja maior, visto que serão realizadas coletas em setores da Universidade, HU e no CEI’S.

A professora doutora afirma que a divulgação será o grande especial desse ano. “Nós percebemos que sem o amparo e apoio da comunicação nossas ações ficam amarradas, pois não conseguimos atingir todo público alvo da universidade. É importante divulgar as atividades, para que elas sejam democratizadas e até pra legitimar o trabalho dos envolvidos”, revela.

Para incentivar ainda mais a participação das crianças na campanha, a doutora explica que os coletores e cartazes serão construídos por elas mesmas no mês de setembro. “Desse modo os alunos vão participar de todo o processo e aprenderão de uma maneira melhor o significado de solidariedade e ajuda ao próximo”, completa.

A Vice-Reitora da UEL Berenice Quinzani Jordão que esteve presente no evento disse que é importante esse tipo de realização no campus. “Faz parte da UEL formar profissionais com qualidade, não só na técnica, e sim como pessoa e cidadão atuante na sociedade. Para isso, ações como essa tem que começar desde cedo, na educação infantil, para despertar a consciência de que cada um tem um papel importante na comunidade em que vive”, completa.

“O mais importante pra gente não é nem a quantidade, mas o momento de reflexão das crianças enquanto cidadão , a partir do momento em que você provoca esse sentimento de solidariedade nas crianças e na comunidade universitária começa a significar a questão da formação humana” conclui a professora doutora Adriana Regina de Jesus.

Toda a arrecadação será entregue no dia 4 de novembro deste ano para as entidades selecionadas. Os postos de arrecadação serão distribuídos pela UEL, CEIs e HU.

Crédito da foto: Flávia Cheganças


O Mal-Estar Contemporâneo sob o olhar da Psicanálise

setembro 19, 2011

UEL sedia palestra psicanalítica que aborda temas sobre a insatisfação humana e as relações sociais na atualidade

Durante a palestra, o psicólogo Valdemir Leonarde promoveu discussões sobre temas atuais e os abordou sob o ponto de vista psicanalítico através de referências como Sigmund Freud, Charles Melman e Dany-Robert Dufour, entre outros

Edição: Beatriz Pozzobon
Pauta: Cláudia Yukari Hirafuji
Reportagem: Ana Maria Simono

O Departamento de Psicologia e Psicanálise da UEL promoveu, no fim de agosto, a palestra “Um mundo sem limites. O mal estar na contemporaneidade e a sua conseqüência na clínica Psicanalítica”, ministrada pelo psicólogo Valdemir Leonarde*. A discussão faz parte de um evento direcionado para estudantes e profissionais de Psicologia que engloba um ciclo de palestras realizadas todas as quartas-feiras sobre a temática da psicanálise.

Para Valdemir Leonarde, o sentimento humano que comumente afeta os indivíduos no sentido da “dor de existir em um mundo que não se mostra, na maioria das vezes, como se pretende que ele seja ou como se julga que ele deveria ser, é um mal estar que atinge a sociedade contemporânea”, e suas causas, segundo o psicólogo, devem-se, principalmente, às “mutações culturais” da sociedade.

Segundo ele, as relações sociais mudaram muito com o decorrer do tempo. A relação primeira de um sujeito com o meio em que se insere, por exemplo, era fundamentalmente uma relação de submissão. O próprio sustento de um bebê já na fase inicial de sua vida não está nele, mas em outro ser (no caso, na mãe). “A mãe seria o primeiro vínculo estabelecido pelo ser humano desde sua existência, e o pai seria, à primeira instância, apenas aquilo que a mãe diz que ele é”, afirma Leonarde.

“A mãe torna-se, então, o objeto de maior desejo dessa criança, que passa a acreditar que ela lhe pertence e que o amor que ela lhe tem é de todo modo incondicional e maior que tudo. O pai deveria interferir nessa situação como forma de ruptura da ilusão da criança. À medida que ela percebe que sua mãe também ama o pai e, portanto, que o amor dessa mãe deve ser dividido, compartilhado, cria-se uma espécie de desilusão necessária da criança”, diz o psicanalista.

Para Valdemir Leonarde, são essas mesmas relações que se refletiram, de certa forma, ao longo das décadas, nos vínculos sociais. Conforme sua análise, a família seria, portanto, a princípio, um caldeirão da vida do sujeito, uma forma de preparação desse indivíduo para a vida em sociedade.
De acordo com o psicólogo, assim como o bebê/criança sentiu um desconforto, um mal-estar, na forma de lidar com a chamada “desilusão necessária”, também o ser humano esteve, em todo seu percurso histórico, envolto de discursos que o submetiam. A narrativa religiosa, a narrativa do estado-nação e a narrativa do proletariado são exemplos disso.

“A democracia, entretanto, subverteu toda essa lógica. Desde o seu surgimento, o sujeito passou a ser não mais sujeito de um grande sujeito, mas de si mesmo. O avanço da ciência, as novas descobertas, a entrada da mulher no mercado de trabalho e o sistema neoliberal fizeram com que os discursos que permeavam o social fossem, gradativamente, perdendo força”, ressalta Leonarde.

“A nova ideologia vigente convidava os parceiros sociais, ou seja, os casais, a transpor todas as restrições de gozo que antes lhes eram delimitadas de acordo com os preceitos éticos e morais estabelecidos, segundo o discurso religioso, de acordo com as vontades de um grande sujeito, de um senhor maior”, destaca o psicólogo. Ele ainda afirma que a tecnologia, contudo, tornou-se capaz de dominar perfeitamente o processo de reprodução, e os excessos da reprodutibilidade técnica do capitalismo também submeteram os indivíduos, mas à lógica do consumo e não mais aos fundamentos de um grande sujeito.

Para o psicólogo, as consequências desse “mal-estar” são inúmeras. A dificuldade do indivíduo contemporâneo em lidar com os limites, a perda da capacidade de julgar, os excessos diários, e a constante luta contra o tempo são, sob o seu ponto de vista, indícios do mal-estar da sociedade contemporânea. “As conseqüências da perda de símbolos diretores e desse mal-estar contemporâneo tem afetado diretamente os indivíduos, que se sentem perdidos, não sabem o que querem e, internamente, encontram-se completamente desarranjados”, afirma Valdemir Leonarde.

Segundo ele, daí o desenvolvimento de casos clínicos de depressão, ansiedade e de patologias psicossociais, além do uso indiscriminado de drogas de todos os tipos. “Um dos aspectos que tenho notado em minha clínica é justamente o aparecimento desse novo perfil de paciente”, observa o ministrante da palestra.

A solução mais fácil seria, para ele, aceitar que a vida é assim mesmo e que podemos conviver com essa dor. “Se existisse algo que nos suprisse totalmente, isso seria a morte do desejo, e quem não deseja está morto”, afirma o psicólogo. Segundo Valdemir Leonarde, o papel do psicanalista ao lidar com esse tipo de situação seria justamente dar um lugar ao sujeito para que ele possa se ver à distância, um lugar onde ele possa organizar, através da fala, a sua vida; e, a partir daí, proporcionar oportunidades para que ele possa refletir a respeito de si mesmo e decidir o que é melhor para sua vida.

*Valdemir Leonarde é psicólogo e psicanalista. Graduado em Psicologia e especialista em Psicanálise pela Universidade Estadual de Londrina, atua há 25 anos no atendimento clínico. Atualmente, atende na Clínica de Psicologia Triade.

Crédito da foto: Ana Maria Simono

 


Edição 127

setembro 12, 2011

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